RIO - Entrou em vigor na Coreia do Sul esta semana uma lei que proíbe os adolescentes de jogar videogames durante a madrugada. O governo alega que a medida é necessária para combater o alto índice de vício em jogos eletrônicas no país, um dos mais ligados em games no mundo. A lei está causando polêmica, gerando processos e uma enxurrada de críticas na internet.
Apelidada de Lei Cinderela, a medida proíbe que pessoas com menos de 16 anos joguem videogames entre 0h e 6h. Obviamente, a legislação é de difícil aplicação, pois as autoridades não têm como saber o que os adolescentes andam fazendo de madrugada em cada domicílio da Coreia do Sul. Mas o governo está recebendo a ajuda das gigantes dos videogames para essa tarefa.
Como a banda larga sul-coreana é considerada a melhor do mundo, jogos em rede são popularíssimos por lá. Por exigirem cadastro e login, essas redes conseguem facilmente impedir o acesso aos seus servidores. A Sony, por exemplo, passou a bloquear o acesso dos adolescentes à Playstation Network (PSN) após a meia-noite. A Microsoft informou às autoridades que não consegue impedi-los de jogar por meio da Xbox Live durante a madrugada porque seu sistema não exige que o usuário informe a idade. Segundo o site especializado Gamasutra, a empresa terá dois meses para se adaptar, mas é possível que a companhia simplesmente comece a bloquear todos os usuários no período do toque de recolher virtual.
Jogar off-line, em celulares e em redes sociais, embora também seja proibido, continua sendo possível já que o governo não tem como fiscalizar. Para burlar a restrição, algumas crianças estão se registrando com os dados dos pais ou acessando certos jogos por meio de servidores ocidentais.
Dados de um estudo oficial realizado em 2010 mostram que 8% da população de até 39 anos têm sintomas de vício em internet. A taxa sobe para 14% nas crianças com idades entre 9 e 12 anos. No entanto, embora o vício em videogames seja caso de saúde pública na Coreia do Sul, por lá a cultura dos games é tão disseminada que partidas são exibidas em canais abertos de TV durante o horário nobre, como se fosse futebol, e alguns jogadores são ídolos nacionais.
O ministério da Igualdade e da Família, que teve a iniciativa da restrição, está recebendo milhares de mensagens com críticas em seu site. O governo também está sendo processado por pais de adolescentes e por ONGs sul-coreanas, que classificam a lei de uma ameaça à liberdade. A Associação Coreana da Indústria de Games, que reúne 14 desenvolvedoras de jogos, também preparam um processo, alegando que o bloqueio é excessivo.
Em fevereiro, outro país asiático, o Vietnã, decidiu bloquear o acesso de toda a população a jogos on-line entre as 22h e as 8h, com o objetivo de reduzir o vício em games no país. O Vietnã informou, na época, que tratava-se de uma medida emergencial que ficaria em vigor até que os casos diminuíssem.
Fonte: O Globo
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